14 de junho de 2007

O Ponto

O PONTO

Aquele era realmente um ponto sensato. Ninguém poderia dizê-lo radical em sua posição. Ficava no meio da sala de visitas, assim meio para a esquerda, nem muito para frente, nem muito para trás. Alguns poderiam dizer que era uma posição cômoda e confortável. Não era. Seria mais fácil ao nível do chão, sem sobressaltos. Mas ele estava ali, a mais ou menos um metro de altura. Não era nenhum vôo ousado, mas uma posição até moderada. Era confortável, para nós, seres humanos observadores pôr as vistas nele. Dizia-se que estava em um ponto de vista neutro. Não estava: era mesmo um ponto comprometido com o equilíbrio espacial da sala. Comprometido com a estética e a harmonia de ser e estar no lugar certo. “The point” No tempo, ele já ficou em outras posições diversas. Já esteve mais alto e mais à esquerda. Mas acabou ponderando melhor, e hoje está mais depurado. É uma posição ímpar, prima. Da Vinci, o matemático italiano, certamente teria uma equação geométrica para explicá-lo. Do tipo daquela que explica a Mona Lisa. Leonardo, o artista, sentiria a plenitude da beleza plástica daquele ponto ali naquela posição. E a cor? Nem tons vermelho-amarelados apaixonados nem tons pastéis. Um tom exato que era realçado pela iluminação que chegava, perfeita da janela colonial, e da porta, aberta às boas influências da cidade de bom astral. Só faltava àquele ponto, ter cheiro e tempero, doce e sal, “au point”, contrapontando sua posição. Tudo nos levava, às vezes, ao ponto de rir ou a ponto de chorar. (Francisco Bastos, em Contracontos)

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